Bom, já estou há um mês na Espanha, e não escrevi nada direito aquí até agora. Fico devendo as dicas, mas hoje algo maior me motivou a escrever. Quero lembrar do espetáculo que vi por muitos anos, por isso escrevo nesta madrugada.
Busquei por algunas semanas um bom Tablao de Flamenco, mas todos me pareciam muito turísticos. Pois eis que encontro em um teatro um espetáculo de flamenco, com uma bailarina conhecida, a um bom preço, e na última seção da temporada hoje... penso: Tenho que ir.
Sábia decisão. Tudo conspirava para que eu fosse: Saí no horario, ainda haviam tickets quando cheguei na bilheteria... tudo a favor.
Mais sorte ainda; Haviam poucas pessoas, e por isso nos transferiram de lugar, para um lugar melhor no teatro. Perfeito.
Começa o espetáculo. Aquela bailarina sozinha, sem música, sem canto, de branco. Elegante, com técnica extremamente apurada. Espetáculo plástico, belo.
A bailarina acelera o sapateado, o som ecoa por todo o teatro, acho que ecoa dentro de mim... grande técnica.... rápido, mas rápido que consigo ouvir. Grande técnica, ganha minha admiração, prende minha atenção.
Chega alguém com um violão... toca rápido, toca lento... toca com melodia, toca batido.
A bailarina volta... a música de suas castanholas se mistura a seus sapatos, de seus sapatos ao violão, do violão ao canto do que canta... um som, uma emoção tão intensa que é impossível ficar impassível.
O som se aquece, aquela plasticidade da dança se mistura ao lamento.. tudo é um só, música, dança, há um só duende naqueles movimentos sincronizados com o som, com a dor, com o cosmo.
E de algo tão doloroso surge um sorriso jocoso, surge a ironia, passos líricos e passos irônicos... a i surge a alma espanhola.
Da alma do toureiro que desafia a morte até a alma da maja que controla os homens, que seduz e destrói... agora entendo Carmem, agora entendo Sevilla... Agora entendo Córdoba, Málaga... vou entender... Entendo Madrid, entendo porque essa cidade sem graça tem graça, tem encanto.
Agora, que a mais pura essência da arte espanhola me chamou a atenção e me fez querer entender... conquistou minha admiração... agora quero entender, do fundo do coração, o que é a Espanha.
Caro mochileiro, para não dizer que não te dei nenhuma dica, deixo o nome da bailarina: Mercedes Ruiz, da companhia com o mesmo nome. Não sei porque tive tanta sorte de pegar a última apresentação de sua obra Baile de Palabra, mas agradeço muito a Deus por toda essa sorte.